5 de mai. de 2011

Maioria ignora médico e sofre lesão ao malhar

Em SP, 90% das pessoas não passam por avaliação antes de iniciar um treino e por isso se machucam.

Para começar a frequentar a academia não basta encontrar tempo, ter força de vontade e comprar um bom par de tênis. Fazer uma avaliação médica completa é essencial para prevenir acidentes e lesões, mas o procedimento é deixado de lado por 90% dos atletas iniciantes de São Paulo. Esse é o resultado de um levantamento da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo com base nos pacientes atendidos em 2010 pelo Ambulatório Médico Esportivo do Hospital Estadual Ipiranga, na zona sul da capital.

Responsável pela pesquisa, o médico do esporte Ricardo Galotti conta que já esperava que esse número fosse alto, mas se surpreendeu com o índice de 90%. Ele reuniu informações de atletas e iniciantes colhidas no próprio ambulatório, no qual atua como coordenador, e também em eventos esportivos. "É uma questão cultural. As pessoas não costumam ir ao médico quando não estão doentes. Além disso, muitas academias não exigem atestado médico. A pessoa faz a matrícula e começa a se exercitar."

Participaram do levantamento 700 pacientes atendidos no ambulatório em 2010, dos quais 60% praticavam futebol, 20% atletismo, 10% artes marciais e outros 10% praticavam modalidades diversas, como voleibol, skate e surfe. "Se uma pessoa com patologias cardíacas praticar um esporte que exija muito esforço, é possível ter complicações que podem levá-la à morte. As patologias ortopédicas também podem piorar com uma atividade física inapropriada", explica Galotti.

De acordo com o médico Jomar Souza, especialista em medicina do esporte e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBME), os exames ‘pré-malhação’ têm duas funções essenciais: prever se determinado exercício poderia colocar a vida da pessoa em risco e verificar se o futuro esportista é vulnerável a lesões ósseas e musculares, no caso de ele ter problemas de postura ou de flexibilidade.

"Se pensarmos na atividade física como um remédio, fica fácil perceber que a dosagem inadequada pode ter efeitos colaterais nocivos, por isso é importante fazer uma avaliação para saber qual é a melhor atividade", diz Souza.

De acordo com a educadora física Regina Bento Oliveira, coordenadora técnica de uma rede de academias da cidade, o maior risco para quem não faz o exame médico antes de começar um exercício são as chamadas doenças silenciosas. "O problema são doenças como hipertensão e diabete, que podem aparecer tanto em crianças de 12 anos de idade como em pessoas adultas que não têm nem histórico familiar", explica. Galotti completa que é muito comum uma doença cardíaca começar a se manifestar durante os exercícios, sem que isso nunca tenha acontecido antes.

Sem orientação. No caso da historiadora Bianca Rios, de 26 anos, que começou a fazer musculação, aeróbica e esteira há duas semanas, a consulta ao médico foi deliberadamente evitada. "Na verdade, eu nem posso fazer academia, pois tenho duas hérnias de disco. Mas, como quero ficar em forma, comecei assim mesmo e até agora estou gostando", admite. Ela contou ao instrutor sobre seu problema e diz que ele está evitando indicar exercícios que comprometam a região lombar.

"Não fui ao médico porque sabia que ele não iria liberar os exercícios. Além disso, é muito difícil conseguir consulta pelo meu convênio", garante a historiadora. No último mês ela está arriscando até mesmo alguns exercícios na plataforma Wii Fit (jogos de videogame que simulam exercícios físicos).

Joelhos são as áreas mais frágeis. Uma boa avaliação médica pré-exercício engloba exames cardiovasculares, exames de sangue e testes ortopédicos. Para o médico do esporte Jomar Souza, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBME), essa avaliação ajuda o instrutor da academia a desenvolver um plano de exercícios personalizado e adequado.

"A pessoa já vai chegar à academia com algumas orientações sobre o que pode e o que não pode ser feito.

Os exames mostram qual é seu perfil corporal, sua flexibilidade", explica. A educadora física Regina Bento Oliveira acredita que o trabalho em conjunto entre o médico e o instrutor beneficia muito o aluno. "É importante que ele traga um exame atualizado para eu saber em que pontos posso forçar e direcionar o treino", acredita.

Segundo Regina, geralmente existe uma falta de comunicação entre os profissionais relacionados às atividades físicas. "Quando tenho alguma aluna com um problema, sempre pego o telefone do médico e entro em contato. Deve ser um trabalho multidisciplinar", avalia.

De acordo com o estudo realizado pela Secretaria de Estado da Saúde, 70% das lesões ocorridas durante o exercício acometem o joelho do praticante, mas há outros alvos fáceis. "Tendinites, lesões nos ligamentos e dores na coluna também são muito comuns", enumera o médico do esporte Ricardo Galotti, diretor do Ambulatório Médico Esportivo do Hospital Estadual Ipiranga e autor do levantamento.

Segundo Galotti, ocorrências cardiovasculares, embora sejam mais graves, ocorrem com muito menos frequência durante a prática de exercícios físicos. A avaliação física pode ser feita por um médico do esporte, um ortopedista, um cardiologista ou mesmo um pediatra, no caso das crianças.

Para os médicos da área esportiva, a maioria das pessoas, mesmo as que têm lesões como a de Bianca, pode fazer alguma atividade física. "A quantidade de patologias que impedem totalmente a atividade física é baixíssima. A gente sempre encontra uma atividade adequada a cada pessoa e, se ela faz questão de fazer determinada modalidade, passamos orientações sobre como deve praticá-la para não agravar seus problemas", diz Souza.


COM CUIDADO
link Exercícios, quando orientados, são benéficos para a saúde. A Organização Mundial de Saúde indica 150 minutos por semana

link Se essa recomendação fosse seguida, cerca de 25% dos casos de câncer de mama e de cólon poderiam ser evitados, segundo dados da União Internacional para o Controle de Câncer

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Dr. Daniel D´Attilio
Fisioterapeuta

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